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Elisangela Luzia Araújo

Esta dissertação estuda a indústria de transformação brasileira, tendo como foco principal a fase recente, para a qual realiza uma investigação teórica e empírica sobre a relação entre o desempenho da produção industrial e as políticas macroeconômicas em curso, particularmente a taxa de câmbio e a taxa de juros, tendo em vista o debate recente sobre as transformações em curso na indústria e suas causas. Inicialmente, o trabalho demonstra que a indústria é um setor de grande relevância no processo de crescimento e desenvolvimento, destacando que seu desempenho na economia brasileira, da década de 1930 até a década de 1980, logrou obter um crescimento vigoroso liderado pela expansão industrial. Entretanto, a partir dos anos 1990, a indústria ingressou em uma trajetória marcada por baixas taxas de crescimento da produção, perda de participação no Produto Interno Bruto, bem como mudanças de ordem qualitativa, tais como o crescimento da participação relativa, na produção e na pauta exportadora, de produtos não-industriais e industriais de menor conteúdo tecnológico. Em consonância com a literatura que discute o assunto, tem-se uma busca por investigar se essa situação estaria relacionada à conjuntura econômica recente, caracterizada pelas elevadas taxas de juros e pela valorização da taxa de câmbio. O procedimento metodológico envolve três etapas. Na primeira busca-se explicitar um fundamento teórico conceitual para a análise pretendida, a partir de uma resenha literária sobre a estreita relação entre crescimento econômico e indústria, enfatizando-se as concepções de Kaldor e da Cepal, bem como a controvérsia Simonsen-Gudin. A segunda etapa dedica-se a uma discussão reflexiva sobre a industrialização brasileira, segundo os principais autores que compõem a literatura pertinente, de modo a se apreender o contexto histórico no interior do qual se explicitam as questões a serem abordadas empiricamente. Na terceira etapa desenvolve-se uma análise econométrica de séries temporais, buscando as evidências dos efeitos da política econômica adotada nos anos recentes sobre a configuração da indústria nacional. Os resultados empíricos alcançados sugeriram que a indústria foi influenciada de forma negativa pelas taxas de juros, mas em relação à taxa de câmbio os efeitos observados ocorreram de forma diferenciada no período 1994-2010, sendo que num primeiro momento (1994-2002) a desvalorização cambial esteve acompanhada da expansão da produção industrial e, no segundo período 2003-2010, de uma redução desta. Os resultados alcançados sugeriram que se trata de um reflexo da configuração recente da indústria, que atualmente está baseada em sua quase totalidade em dois segmentos específicos: o de recursos naturais e produção em escala, com destaque para a indústria de petróleo e combustíveis, alimentos, metalurgia entre outros, cujas vantagens comparativas não se anulam facilmente frente à variações cambiais. Em adição, mudanças qualitativas estão ocorrendo, a exemplo dos reflexos sobre o comércio exterior brasileiro, no qual notou-se um aumento das importações em ritmo superior às exportações, maior participação relativa de produtos de baixa tecnologia e não-industriais, assim como a redução do saldo comercial dos produtos industriais, particularmente os de maior conteúdo tecnológico no período recente. Essas tendências levantadas no presente estudo apontam para necessidade de novos estudos e pesquisas que captem melhor as mudanças, suas causas e seus efeitos em médio e longo prazo. Sugerem ainda, que é necessário que se conceda maior atenção ao setor industrial brasileiro, tendo em vista a importância deste para o crescimento econômico.