Mateus Boldrine Abrita
A despeito da rigidez que singulariza a política monetária brasileira, representada principalmente pelas altas taxas de juros, a inflação no país ainda encontra-se acima da média mundial, apesar do sucesso inequívoco do Plano Real e do Regime de Metas de Inflação (RMI) no controle da inflação entre 1995 e 2011. Essa observação dá indícios de que a economia brasileira possui especificidades que algumas teorias dominantes sobre inflação não incorporam. Logo, políticas norteadas única e exclusivamente por essas análises, podem trazer sacrifícios desnecessários para o país. Sendo assim, esta pesquisa busca analisar com profundidade a problemática da inflação no Brasil pós RMI, com o objetivo de levantar os principais elementos, causadores e aceleradores do nível de preços, sob a hipótese de que outros fatores como choque de custos e componente inercial são tão ou mais relevantes que pressões de demanda, para explicar o problema. Para isso, inicialmente, serão investigadas as teorias que destacam as principais causas da inflação nas diferentes escolas de pensamento econômico, sejam elas de demanda, oferta ou inercial. Na sequência, o capítulo II apresenta um estudo analítico dos principais índices de inflação no Brasil, dando destaque especial para IPCA, na última década, bem como seus grupos, subgrupos e importantes desagregações, a fim de verificar quais os componentes que mais pressionaram os níveis de preços. Desse modo, os movimentos do IPCA e seus componentes são os mais representativos do que ocorreu com a inflação brasileira na década de 2000, ou seja, os preços administrados tiveram papel fundamental no comportamento da inflação, principalmente na primeira metade da década, após esse período o grupo alimentos passa a pressionar os preços de modo mais significativo. Posteriormente, o capítulo III busca acrescentar as demais análises, maiores evidências ao estudo, com a finalidade de apontar os principais elementos causadores da inflação brasileira. Utilizando para tal um instrumental econométrico dos modelos autorregressivos estrutural SVAR, objetivando auferir empiricamente quais são os determinantes do IPCA índice cheio, e suas decomposições entre preços livres e administrados. A abordagem econométrica corrobora com a conclusão apresentada no capítulo II, ao qual, verificou que a inflação brasileira sofreu uma significativa pressão por parte dos preços administrados e dos alimentos. Não caracterizando uma inflação tipicamente de demanda. Através da análise da decomposição da variação, foi observado que o IPCA é determinado fundamentalmente por sua própria variância, além da taxa de câmbio e em menor patamar, porém significativo, o preço das commodites. Os preços livres e administrados seguem a mesma lógica, dando destaque especial para a forte característica inercial apresentada pelos preços administrados. As evidências apresentadas no capítulo III revelam que a inércia, os fatores externos e as condições de oferta se sobrepõem a demanda no sentido de determinar a inflação brasileira. Portanto, a inflação se mostra pouco sensível ao nível de atividade, e as medidas de política de controle baseadas exclusivamente na inflação de demanda podem se apresentar de forma ineficiente e ineficaz se comparadas com medidas alternativas. Por fim, o Capítulo IV tem como objetivos propor medidas mais alinhadas com a realidade inflacionária da economia brasileira, buscando reverter as pressões inflacionárias mais características do período, assim consecutivamente, setor externo e taxa de câmbio, inércia e indexação, inflação de commodities e alimentos.