William Oura Suzuki
Essa pesquisa investigou as razões da redução da mão-de-obra empregada na agricultura brasileira a partir dos anos 1980. Para atingir este objetivo, foram testadas as seguintes hipóteses para justificar a saída dos trabalhadores do campo: as cidades oferecem melhores oportunidades, a tecnologia dispensa mão-de-obra rural e a reforma agrária evitou maior fluxo migratório. Assim, a metodologia utilizada envolveu as análises pontuais do processo de modernização da agricultura brasileira, do mercado de trabalho (agrícola e não agrícola), da tecnologia empregada no campo com ênfase na agricultura familiar, dos programas e serviços de ATER realizados para esses produtores e dos programas de reforma agrária ocorridos até o momento. Para isso, foram apresentados dados sobre a evolução das populações urbana e rural, a evolução do Pronaf ao longo dos anos e o número de assentamentos realizados e de famílias beneficiadas por esses projetos a partir dos anos 1980. Assim, esse estudo revelou que as cidades oferecem diversas vantagens como os maiores salários e a facilidade de acesso à saúde e à educação, incentivando a saída da população rural, em especial os jovens. Ademais, a tecnologia, embora tenha contribuído para o desenvolvimento rural, dispensou os trabalhadores do campo, atuando, simultaneamente, a favor e contra os produtores. Os agricultores familiares foram os maiores afetados por representarem quase 75% da mão-de-obra empregada nesse setor. Esse grupo passou a receber maior atenção somente a partir dos anos 1990 com a criação do Pronaf, considerado ainda o principal instrumento de política agrícola na atualidade para esse segmento. Os dados apresentados revelam maior quantidade de agricultores atendidos pelo programa, porém a distribuição dos recursos aplicados ainda é desigual no país, com maior concentração no Sul. Já o Nordeste merece maior atenção por concentrar muitos estabelecimentos agropecuários do Brasil, sendo a maioria agricultores de menor renda e com baixo nível de instrução. Por fim, verificou-se que a reforma agrária, por meio de assentamentos e da consequente geração de emprego e renda às famílias antes sem acesso à terra, evitou maior fluxo migratório. Porém, embora beneficiadas pelo programa, há famílias ainda com dificuldades para produzir alimentos nos assentamentos, sugerindo-se, assim, os seguintes desafios às políticas públicas: investimento em educação rural, valorização do trabalho agrícola, melhor distribuição dos recursos pelo Pronaf, inclusão digital no campo, melhoria dos assentamentos já existentes e continuar implantando novos projetos de distribuição de terras com a garantia de ATER.