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Samuel Costa Peres

O objetivo neste trabalho é examinar a evolução da fragilidade financeira e da vulnerabilidade externa da economia brasileira a partir de 1990, isto é, a partir do aprofundamento dos processos de integração e liberalização financeira do país. A preocupação central que motiva e justifica o estudo é que a forma com que um país se insere internacionalmente tem diferentes implicações em termos de financiamento e dependência do capital estrangeiro, e da capacidade de enfrentamento de choques ou fatores desestabilizadores externos e, portanto, assume papel fundamental na trajetória de crescimento de longo prazo da economia. Para contemplar o objetivo proposto, o estudo divide-se em dois ensaios interdependentes. No Ensaio 1, realizou-se uma revisão da literatura no tocante à fragilidade financeira externa, tendo como ponto de partida a hipótese de instabilidade financeira de Hyman Minsky. Na sequência, foi aplicado o índice de fragilidade financeira externa (IFE) desenvolvido por Paula e Alves Junior (1999), além de um indicador complementar, que serviram de base para a análise. Constatou-se que os indicadores de fragilidade financeira refletiram bem a volatilidade e irregularidade dos fluxos estrangeiros de capitais, mesmo nos períodos de abundante liquidez internacional, demonstrando o caráter financeiramente instável das economias globalizadas. Ainda, sublinharam a importância dos investimentos estrangeiros diretos e financiamentos de longo prazo para o arrefecimento dessa fragilidade, e, principalmente, a necessidade de um volume elevado de reservas internacionais como política de ampliação das margens de segurança. O Ensaio 2 dedicou-se a análise da vulnerabilidade externa brasileira no período mencionado, com enfoque ao seu caráter estrutural, por meio do exame das esferas produtivo-real, tecnológica, comercial e monetário-financeira, e de uma comparação entre alguns países recentemente industrializados (NICs), a partir do índice de vulnerabilidade externa estrutural (IVE) proposto por Gonçalves (2005). Nesse ensaio, evidenciou-se que os recorrentes desequilíbrios de fluxos e estoques referentes às relações econômicas internacionais do país apontam uma elevada vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira. Ademais, a análise comparativa internacional revelou que no período abordado, o Brasil apresentou o maior IVE entre as economias do grupo, ao passo que economias caracterizadas por uma inserção mais ativa e prudente no mercado global apresentaram os menores índices. Finalmente, conclui-se que a redução da vulnerabilidade externa estrutural passa pela capacidade da economia brasileira de reequilibrar sua conta de transações correntes, tornando-se menos dependente de superávits na conta financeira, isto é, menos dependente dos ciclos de liquidez internacional. No entanto, sem o resgate de uma política de desenvolvimento, que promova modificações na estrutura produtiva, e produza reflexos na pauta exportadora brasileira, o único meio de ampliar os saldos comerciais é a expansão contínua dos preços e da demanda internacional por bens primários e intensivos em recursos naturais.