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Bárbara Sant'ana Kuenka

O objetivo deste estudo foi analisar, de forma geral e por sexo, os fatores associados à percepção do estado de saúde mental dos escolares no Brasil, bem como o efeito do Programa Saúde na Escola (PSE) sobre esse estado. O marco teórico usado foi o modelo de Grossman, no qual a função de produção em saúde correspondeu à percepção do estado de saúde mental “não boa” dos adolescentes, construída a partir dos seus níveis de solidão e insônia. Na primeira parte da pesquisa foram usados os dados da PeNSE 2012 e 2015 e o modelo estimado foi o probit. Na avaliação do PSE sobre essa percepção, utilizou-se a metodologia Propensity Score Matching (PSM) de avaliação de impacto, aplicada às informações de 2015

– por ser a única edição que aborda questões sobre esse programa. Os resultados apontaram que fatores como comportamento de risco, exposição ao bullying e ao abuso sexual contribuíram para a piora dessa percepção. Já condicionantes como alimentação saudável, boa autoavaliação da saúde e do corpo atuaram como aspectos de proteção mental para ambos os sexos. Ser do sexo feminino ofereceu maiores chances de apresentar uma percepção de saúde mental “não boa”. Para os meninos, enquanto a condição de atraso escolar foi prejudicial para a saúde mental, a prática regular de atividade física foi benéfica para esse estado. Meninos residentes na região Norte do Brasil registraram indícios de saúde mental “não boa”  e meninas do Sul e Sudeste do país apresentaram menores chances de conviver com problemas de saúde mental. Quanto ao PSE, este apresentou efeito benéfico sobre a percepção dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental e, principalmente, sobre os níveis de solidão dos garotos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Concluiu-se que os fatores (ou insumos) socioeconômicos, demográficos, comportamentais e de gestão influenciaram a percepção do estado de saúde mental dos escolares (produto final), afetando meninos e meninas de formas distintas. O PSE, mesmo não sendo uma política pública dedicada exclusivamente à saúde mental dos adolescentes, foi relevante para a proteção do estado psicossocial deles. Contudo, como ele exerceu pouco efeito sobre a saúde mental feminina, indica-se a necessidade de ações mais ativas para esse público nas escolas participantes do programa.