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Othon Hilton Alves

A mudança estrutural positiva, processo pelo qual uma economia realoca recursos para setores mais produtivos, é essencial ao desenvolvimento econômico. Nesse sentido, a literatura estruturalista destaca a importância da manufatura, dadas suas características produtivas e de mercado. Ademais, sob o atual paradigma das tecnologias da informação e comunicação, também há a ascensão de um grupo de serviços de maior valor agregado, classificados como “Knowledge Intensive Services” (KIS) – Serviços Intensivos em Conhecimento – que rompem com limitações dos serviços tradicionais e possuem simbiose com a manufatura e potencial para a promoção do crescimento. Assim, a indústria manufatureira e os KIS formam um conjunto de atividades dinâmicas que, se corretamente estimulados pelas políticas públicas, podem impulsionar o desenvolvimento. Todavia, no Brasil, principalmente a partir dos anos 1990, está em curso um processo de desindustrialização prematura, especialização regressiva da pauta de exportações e baixo crescimento. Em vista do exposto, esta dissertação tem como objetivo investigar a desindustrialização da economia brasileira sob a ótica da decomposição estrutural do emprego na indústria de transformação e nos setores de serviços, no intuito de verificar qualitativamente as fontes da referida mudança estrutural. Utilizam-se as matrizes insumo-produto dos anos de 2010 e 2020, a 67 setores, do Grupo de Indústria e Comércio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GIC-UFRJ), através das quais é realizada uma decomposição do emprego nos seguintes efeitos: coeficientes de trabalho, mudança tecnológica, substituição de insumos nacionais por importados, demanda final e exportações. Dentre os principais resultados, a pesquisa evidenciou que houve uma perda no emprego relativo industrial com ênfase nos segmentos de atividades mais intensivos em tecnologia e, de forma geral, foram determinantes dessa redução, aspectos indesejáveis ao crescimento, tais como, quedas do emprego devido à redução de demanda final e aumento devido à perda de produtividade. Referente aos KIS, nota-se que houve elevação da parcela no emprego, motivado pelo aumento causado pela expansão da demanda final e pela redução da produtividade, confirmando a existência de um processo de desindustrialização cujos determinantes centrais são a desaceleração econômica, acrescido das políticas macroeconômicas incompatíveis com a expansão da produtividade e a melhoria da inserção externa.