Ítalo Oikawa
Esta tese abordou o tema sobre a economia das causas externas no Brasil, com enfoque nos impactos econômicos e fatores associados à mortalidade e às internações hospitalares por esses agravos. Essas questões foram abordadas por meio de três ensaios. No primeiro ensaio mensurou-se as perdas econômicas (consumo, produção e valor adicionado) por acidentes de transporte, suicídio e homicídio no Brasil, no ano de 2017. Especificadamente, avaliou-se a magnitude e a extensão das ligações intersetoriais (efeito cascata). Para tanto, utilizou-se o Modelo de Insumo-Produto de Inoperabilidade (MII). Os resultados descritivos desse ensaio mostraram disparidades regionais no Brasil em número de mortes e taxas de mortalidade por essas causas, com ocorrência delas, principalmente, na região do Nordeste do país, com indivíduos do sexo masculino e em idade economicamente ativa. A partir das estimações do modelo MII, verificou-se que essas três causas externas geraram perdas econômicas globais significativas em termos de produção (4.475,24 milhões de reais), consumo (2.330,99 milhões de reais) e valor adicionado (2.673,92 milhões de reais). As perdas de produção ocorreram nos setores de fabricação de automóveis, caminhões e ônibus, exceto peças (860,43 milhões de reais), de fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (61,604 milhões de reais) e de fabricação de peças e acessórios para veículos automotores (230,135 milhões de reais). Na análise desagregada de componentes do valor adicionado, a economia brasileira deixou de gerar 1.186,19 milhões de reais (44,4% do VAB) em salários, 1.088,30 milhões de reais (40,7% do VAB) em excedente operacional bruto e rendimento misto das empresas. Além disso, os governos (federal, estadual e municipal) não arrecadaram 399,42 milhões (14,9% do VAB) em impostos líquidos de subsídios sobre produção e importação. O segundo ensaio desta tese analisou os fatores espaciais (econômicos, demográficos e de gestão em saúde) associados à taxa de mortalidade de motociclistas entre as microrregiões do Brasil, no ano de 2016. Como métodos empíricos foram usados a Análise Exploratória de Dados Espaciais – AEDE, os modelos econométricos espaciais e o de Regressão Geograficamente Ponderada – RPG. Com base na função (teórica) de produção de saúde de Grossman, em que o produto correspondeu a taxa de mortalidade de motociclistas, verificou-se que as disparidades regionais dessa taxa entre as áreas analisadas foram explicadas por fatores (ou insumos) econômicos – IFDM Emprego e renda (associação global negativa), demográficos - densidade demográfica (associação global e local negativa) e taxa de motorização de motocicletas (relação global e local positiva) - e de gestão em saúde – taxa de médicos especialistas (efeito global negativo). Ocorreram também efeitos de transbordamentos espaciais das variáveis dependente e da taxa de motorização defasadas entre as microrregiões do país. Com o objetivo de analisar, no período de 2008 a 2018, os fatores espaciais (econômicos, demográficos e de saúde) da taxa de internações hospitalares (suavizada) do SUS por acidentes de transporte terrestre entre os municípios paranaenses, fez-se uso do modelo teórico de Grossman, da técnica de suavização Bayesiana Empírica Espacial e da econometria espacial (Análise Exploratória de Dados Espaciais - AEDE e modelo de Painel de Dados Espaciais). Foram evidenciadas diferenças regionais na distribuição geográfica dessa taxa. Esse comportamento (no tempo e no espaço) foi influenciado positivamente pelos fatores PIB real per capita e pela taxa de motorização de veículos, e negativamente pela densidade demográfica. Além disso, captou-se os efeitos das variáveis demográficas relacionadas a vizinhança sobre a taxa de internações do município em análise. O fator saúde (prevalência dos acidentes de transporte) não apresentou efeito significativo. Concluiu-se que, a mortalidade e as internações por causas externas, corresponderam a um grave de problema de saúde pública para o Brasil, inclusive em nível municipal, no período recente. Isso ocorreu, pois, além de refletir uma piora do estado de saúde geral da sociedade, essas variáveis geraram grandes perdas econômicas (nacionais, setoriais e intersetoriais) e de capital humano. Além disso, fatores econômicos, demográficos e de gestão em saúde afetaram o comportamento geográfico e temporal dessas variáveis, com relevantes efeitos locais.