Magno Rogério Gomes
A presente tese tem por objetivo analisar os mecanismos de transmissão parental da pobreza pelos canais do mercado de trabalho associados às ocupações e à educação no Brasil. Para isso, foram estimadas as probabilidades dos legados ocupacional e educacional intergeracionais, utilizando as bases de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNADC) de 2019. Aplicou-se o modelo Logit multinomial para encontrar as chances de reprodução/transmissão parental do legado ocupacional e o Logit binomial para o legado educacional, segundo a classe socioeconômica do indivíduo. Mensurou-se também as equações salariais quantílicas com correção do viés de seleção amostral e a decomposição salarial RIF - recentered influence function. O estudo constatou a influência dos pais no processo de escolha das carreiras dos filhos, sendo diferente para grupos díspares, como a classe socioeconômica, gênero, estrutura familiar e região de moradia. Filhos homens tendem a seguir o legado ocupacional do pai, enquanto as filhas as ocupações das mães. Indivíduos do meio rural têm maior probabilidade de ser perpetuar na ocupação dos pais do que os indivíduos do meio urbano. A estrutura familiar gera influência na ocupação dos filhos, em que jovens de famílias monoparentais tendem a buscar ocupação distinta de seus responsáveis. Evidenciou-se também que, em geral, os indivíduos pobres têm uma maior probabilidade de seguir o legado ocupacional e educacional dos pais. Os resultados confirmam a hipótese levantada de que trabalhadores que tendem a seguir o legado ocupacional dos pais têm remunerações inferiores aos dos indivíduos que optam por outras ocupações, e que esse fato pode ocasionar um “ciclo vicioso da pobreza” aos indivíduos que pertençam à classe dos pobres, ou um “ciclo virtuoso da riqueza”, aos que pertençam à classe dos não pobres. Constata-se que a influência dos pais na ocupação dos filhos é mais forte quando esses ainda estão residindo com os pais, sendo que um grande número de indivíduos irá carregar essa transmissão ocupacional por toda a vida e com grande probabilidade de repassar o legado para as próximas gerações. O nível de escolaridade dos pais também influencia o nível de instrução dos filhos, o que pode promover um “ciclo vicioso da ignorância” quando os pais têm baixo nível de instrução e os filhos seguem o legado educacional. Essa evidência desfavorável é mais intensa para o grupo dos pobres. O impacto do legado ocupacional nos salários dos filhos é maior no menor quantil da distribuição salarial e mais intenso para a classe dos pobres, o que torna a “armadilha da pobreza” mais robusta, visto que os jovens economicamente menos favorecidos tendem a seguir os passos dos pais para contribuir com a renda familiar, se deparando com um trade off entre trabalho ou estudo. Isso interrompe a sua formação e os forçam a se inserirem precocemente no mercado de trabalho, desempenhando ocupações secundárias, com menores rendimentos, gerando um “ciclo vicioso da pobreza”.