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Nathália Caroline Faria

As transações entre produtores de café e cooperativa de produtores de cafés certificados e especiais do Norte Pioneiro do Paraná podem ser interpretadas como um relacionamento de interessante econômico. Diante disso, a presente tese busca explorar as dimensões da transação e respectivos incentivos sob o enfoque da Economia dos Custos de Transação e Teoria da Agência. Embora as duas contribuições teóricas partam da Nova Economia Institucional, acredita- se que a pesquisa possa ser expandida com outras teorias ou até mesmo com a integração de perspectivas entre os demais elos dessa cadeia. Especialmente no que diz respeito as dimensões da transação, falhas de coordenação, ineficiência ou eficiência de incentivos, custo-benefício, competitividade e mecanismos de monitoramento. Para essa tese adotou-se como objetivo identificar os atributos da transação e os pressupostos comportamentais, entre cooperativa e pequenos/médios produtores de cafés certificados/especiais do Norte Pioneiro no Paraná, assim como a eficiência dos incentivos institucionais. A análise se deu pela cadeia de cafés especiais e certificados do Norte Pioneiro do Paraná, entre cooperativa e cooperados. A determinação pelo objetivo geral se teve pelo fato de que a demanda mundial por cafés de maior qualidade aumentou, significativamente, nos últimos anos. Isso porque os consumidores de café especiais/certificados (Coffee Lovers) estão cada vez mais exigentes, tornando o mercado competitivo mais acirrado. Outrora, o esforço de manter a cadeia de abastecimento de cafés de maior qualidade exige agentes capacitados, desde a adoção de mecanismos de monitoramento até incentivos que estimulem a qualidade, afim de garantir a produção do grão. Ademais, a cadeia de cafés especiais observada apresenta falhas de coordenação, o que pode comprometer o desenvolvimento do segmento. Para alguns estudiosos, a falta de transparência nos relacionamentos comerciais entre cafeicultores e compradores eleva o comportamento oportunista, desestimulando os investimentos na produção de maior qualidade pela perspectiva do cafeicultor, reduzindo o volume produzido e a competitividade dos produtores locais. Nesse sentido, o relacionamento entre os agentes é visto como uma transação permeada por mecanismos de monitoramento e incentivos, para diminuir o comportamento oportunista e as falhas decorrentes da assimetria de informação. Em relação aos incentivos, são adotados para que os cafeicultores elevem os investimentos em qualidade e adotem práticas de produção conforme as exigências dos consumidores e critérios de certificação. Diante disso, destaca-se a necessidade de compreender as transações e os incentivos à qualidade no setor cafeeiro. Esse estudo apresenta como hipótese teórica a tese de que o produtor de cafés especiais do Norte do Paraná é influenciado pela especificidade do ativo transacionado e pela estrutura de governança, ou seja, pela eficiência econômica da relação comercial em comparação com os investimentos específicos. Para atingir o objetivo proposto optou-se por uma abordagem quali-quanti, por meio de aplicação de questionários e dados secundários. Os dados primários foram coletados por meio de um questionário semiestruturado aplicado com 23 produtores de café especial do Norte Pioneiro do Paraná (cooperados) e responsável pela cooperativa. Já os dados secundários, fez-se uso de um banco de dados fornecido pelo engenheiro agrônomo do Sebrae PR. Para a análise dos dados, empregou-se as técnicas estatísticas de normalidade, correlação e testes não-paramétricos (Wilcoxon signed-ranks e teste t). Os resultados confirmaram a hipótese de eficiência econômica conforme a teoria proposta, ao demonstrar que os investimentos são necessários para elevar os investimentos na qualidade do grão e de que a alta qualidade do ativo tende a ser transacionada pelo arranjo híbrido ao invés do mercado. Apesar das relações de mercado, ainda, prevalecerem na região. Portanto, os mecanismos de incentivo adotados pela cooperativa são eficientes quando sinaliza aos cafeicultores que os investimentos em qualidade serão recompensados, mesmo diante da vulnerabilidade de riscos e de apropriação de valor. Constatou-se também que as variáveis de tempo como cooperado, bens substitutos, assimetria de informação, incertezas ambientais, especificidade do ativo, preço, monitoramento e sacas alteram a decisão do produtor em relação aos investimentos na qualidade do ativo. Por fim, esse estudo traz contribuições ao identificar que para alcançar o nível de qualidade almejado pelo mercado demandante, a cadeia de cafés especiais do Norte Pioneiro do Paraná deve ampliar a transparência das informações nas transações e sinalizar os cafeicultores quanto a compensação (monetária ou não) sobre os investimentos em qualidade.