Sérgio Alexandre dos Santos Junior
Como fato estilizado da desindustrialização, a relação entre o PIB per capita e a participação da manufatura no PIB e no emprego segue um padrão no formato de “U invertido”, conhecido na literatura econômica como “curva de Rowthorn”. Com o objetivo de contribuir para a discussão a respeito da importância da estrutura produtiva de modo geral, e da indústria em particular, para o desenvolvimento econômico do Brasil, buscou-se analisar o fenômeno da desindustrialização em uma perspectiva subsetorial e setorial específica, oferecendo um diagnóstico mais detalhado da perda de dinamismo do setor industrial na economia brasileira. Assim, para analisar se essa desindustrialização vem sendo homogênea ou específica a determinados setores – e ao nível de intensidade tecnológica –, foram estimadas as relações existentes entre a evolução do PIB per capita e a participação da manufatura na economia nacional, tanto em termos de emprego (memp) quanto valor adicionado (mva), ao período de 1990 a 2019. Para a análise subsetorial e setorial específica, os dados da manufatura foram desagregados em três categorias tecnológicas (alta, média e baixa tecnologia), conforme metodologia proposta pela UNIDO. Os dados para análise geral e subsetorial são do Sistema de Contas Nacionais (SCN), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Banco Mundial. Os resultados encontrados indicam que, durante o período de 1990 a 2019, o processo de desindustrialização na economia brasileira não tem se comportado de maneira homogênea, tanto em termos de nível de intensidade tecnológica quanto às diferentes proxies para medidas de industrialização/desindustrialização. Se em termos de participação do valor adicionado da manufatura (% do PIB, medida a preços correntes ou constantes) há fortes evidências de um processo de desindustrialização em curso, inclusive em todos os subsetores (alta, média e baixa tecnologia), em termos de participação do emprego (% do total) esse processo apresenta uma reversão, ainda que parcial, dessa tendência. As relações estimadas evidenciam um comportamento do processo de desindustrialização que varia ainda de acordo com o nível de intensidade tecnológica presente. Nos subsetores de baixa e alta tecnologia, a participação do emprego parece seguir, a partir de um determinado nível de renda, quase uma relação linear positiva. Destacam-se nessa análise os setores de Veículos a motor, reboques, semirreboques, Outros Equipamentos de Transporte, Alimentos e Bebidas, Impressão e Publicação, Mobília, equipamentos n.e.c. e reciclagem e Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. De todos os setores específicos analisados, esses foram os únicos que apresentaram, ainda que de modo não contínuo e por um certo período, uma relação positiva observada entre a evolução do PIB per capita e as duas medidas de industrialização/desindustrialização (memp e mva). Tais descobertas enfatizam a importância de se pensar em políticas direcionadas, as quais levem em consideração a natureza específica da desindustrialização em contextos específicos da economia nacional, em vez de políticas generalizadas. Nesse sentido, ferramentas de política econômica e industrial que consideram a heterogeneidade presente dentro da indústria nacional parecem ser essenciais para aumentar a agregação de valor interno e reverter, ou até mesmo atrasar, o processo de desindustrialização em curso.